segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ética e Alteridade: uma análise da canção "Metamorfose Ambulante", de Raul Seixas

A tessitura da canção “Metamorfose Ambulante” se dá a partir do confronto entre dois fenômenos sociais: um nomos totalizante, cristalizado e plausível e uma ética singular, anômica, instável e individual do poeta. Recorrendo a letra da própria música, é a oposição entre os que tem “ a velha opinião formada sobre tudo” e aquele que se vislumbra como uma “metamorfose ambulante”.

Esta rivalidade no âmbito da arte pode ser bem acolhida pela reflexão filosófica. Primeiramente devemos nos questionar? Qual o fenômeno social que pressupõe apontar princípios, normas ou regras universalizantes? A moral, sem dúvida. De onde surge a moral? Do hábito, da repetição: “[...] uma disposição permanente de agir de uma certa maneira” (ALMEIDA, 2002, p. 17). O pensamento do poeta “metamorfose ambulante” nasce da moral, do éthos? Evidentemente que não. Seu discurso se constrói a partir da negação e fissura de modelos sociais que se arvoram em tudo saber e explicar.

Se por um lado a fala do poeta não é moralizante, à medida que nega o valor da repetição e da estabilidade, não podemos negar-lhe o caráter ético. É da intencionalidade do autor dar sentido, plausibilidade ao seu mundo, mesmo reconhecendo que tal construção não se dará através da negação da instabilidade das coisas que o cercam, nem mesmo da inconstância que traz dentro de si (“eu quero viver nessa metamorfose ambulante”). A plausibilidade do seu êthos, de sua morada, se assenta na transitoriedade das coisas, na impossibilidade de ser coerente o tempo todo (“eu sou um ator”), na efemeridade das coisas e dos mundos (“Se hoje eu sou estrela / Amanhã já se apagou / Se hoje eu te odeio / Amanhã lhe tenho amor).

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