Creio ser impossível optar entre o epicurismo e estoicismo, pelo menos se estivermos pretendendo alçar nossa decisão ao posto de verdade unívoca e atemporal. Estamos tratando de um processo de escolha, realidade esta que por si só é instável. Toda escolha pressupõe capacidade de comprometimento com algumas questões tidas por primárias em detrimento de outras.
Desse modo, a escolha entre a apatia e o prazer como via felicis deve ser vislumbrada como meras pretensões legítimas de produzir significados, os quais, por sua vez, garante a plausibilidade social. Reconhecendo, assim, que uma escolha é, em si mesma, precária – à medida que não pode ser elevada à categoria de realidade estável e universal – podemos afirmar que tal decisão é passível de ser feita a partir da identificação de alguns elementos que, pretensamente, caracterizam a sociedade pós-moderna.
E o que caracteriza melhor a pós-modernidade que o relativismo? De fato, a crítica ferrenha à razão enquanto fonte absoluta da verdade é o elemento basilar na discursividade contemporâna. Nesse contexto, em detrimento da concepção estóica do aniquilamento da paixão, Epicuro passa a ter espaço certo ao alavancar a felicidade ao posto primeiro na vida humana.
O prazer epicurista é resultante da liberdade, o que vem de encontro também à contemporaneidade. Entretanto, Epicuro reconhece o papel da amizade – e, portanto, do grupo – na busca da felicidade. Se vivemos cada vez mais em guetos dentro de megalópoles – o que romperia com a visão epicurista – ambos – liberdade e amizade – são exaustivamente explorados pela mídia como elementos não apenas desejáveis, mas disponíveis no comércio. Nesse sentido, Epicuro vive e dá muito lucro!
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