A estrutura celular instaurada no modelo de produção capitalista pós-fordista estabeleceu um novo modo de controle das atividades dos trabalhadores. Penso que Foucault pode nos ajudar a compreender sobremaneira a fala em questão. Se é verdade que a realidade contemporânea no plano do trabalho foi diminuída consideravelmente, em razão da imposição de novas situações bem distintas das concebidas por Ford e aplicadas por Taylor –- fala-se em “[...] trabalho polivalente, multifuncional, flexível” –- as estratégias de controle também tornaram-se muito mais requintadas. O exercício do poder ampliou-se assustadoramente, assumindo uma multiplicidade de facetas. Os novos mecanismos de controle no espaço produtivo se justificariam por meio de um discurso fascinante, profuso, alicerçado na ideia de maior autonomia dos trabalhadores e na concorrência “sadia” entre eles. Pro exemplo, ao invés de supervisores, fala-se em equipes de cooperadores, cada um vigiando o outro, impulsionador por metas. É a analítica do poder que se desmembra num grande conjunto de movimentos e ritos.
Além dessa questão da mudança de percepção do exercício do controle no âmbito das fábricas, temos que reconhecer que o trabalho, ao deixar de ser o único elemento fundador do ser social, permitiu o surgimento de discursos até então minimizados na modernidade. Discursos de gênero, por exemplo, ocupam enorme espaço nas lutas de classe. É evidente que observamos uma sobreposição de discursos que, ao invés de se negarem, se complementam. Desse modo, há uma articulação de variáveis constitutivas do homem moderno que acabam resvalando no seu ambiente de trabalho, que ainda permanece sendo um espaço privilegiado de identificação das injustiças sociais, ou se preferirmos, da “superestrutura” concebida por Marx. Sendo assim, estas novas leituras sociais, que em um primeiro momento podem parecer estranhas, se integram. De certo modo, a multifuncionalidade do homem na pós-modernidade implicou na ampliação do espaço de luta para a construção da cidadania, que, contudo, continua profundamente alicerçada no questionamento das estruturas socioeconômicas injustas.
Cristian Santos
http://lattes.cnpq.br/8390599364080828
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